segunda-feira, 18 de março de 2013

Prólogo



É incrivelmente errado as árvores parecem tão vivas nos cemitérios. Sempre que eu penso neles, algo que não faço com muita frequência  eu os imagino com arvores velhas e mortas, ressecadas e sem nenhum respingo de vida, com túmulos na maior parte das vezes esquecidos e empoeirados, um lugar que determina o fim de uma jornada não deveria ter beleza. Assim como a morte ao redor não tem. Porque realmente não tem nada de belo em morrer. E disso eu entendo.

Ninguém vê os cemitérios como eu os vejo, é por isso não ponho meus pés em um há muito tempo... Muitas pessoas devem achar reconfortante enterrar seus entes queridos em um lugar arborizado que cheia a flores, com verde te preenchendo a visão de todos os lado, talvez essa visão faça com que eles pensem que seus mortos vão descansar em paz, e alguns realmente descansam, mas outros simplesmente ficam presos no meio do caminho, e é esse o motivo que me impede de entrar em um cemitério, pelo menos era até hoje. 

Eu até me esforço para me concentrar na beleza do lugar, talvez isso faça com que eu me esqueça de onde estou, mas não dura muito tempo. Aos poucos as belas árvores vão sendo tomadas por sombras ofuscadas, o cheiro de flores da lugar a algo podre, e minha visão se turva em meio a tanta dor, meus ouvidos se enchem de pedidos de ajuda que eu não posso atender. E por um momento eu penso estar cruzando a barreira da loucura. É por isso que eu odeio cemitérios  As pessoas que não fazem a passagem assim que morrem tendem a ficar presas em seu lugar preferido, sendo assim você não pode esperar nada de bom das almas que continuam presas a seus túmulos  Eles são aqueles que ainda não entenderam o que são ou que não tem outro lugar para ir, essas são as almas que eu não poderia ajudar nem se quisesse. Já estão perdidos em meio a loucura e a fúria.

Seguro firme no braço de minha madrasta, não porque eu ache que ela esta  a ponto de desmaiar, porque realmente eu acho que está, mas porque eu preciso de ajuda para seguir em frente, para conseguir chegar até a tenda no meio do gramado onde um caixão vazio me espera. O lugar já esta lotado e um padre já esta posicionado atrás do caixão de costas para inúmeras coroas de flores, embora não tenha corpo algum para ser enterrar todos que o amaram estão presentes para finalmente deixarem ele fazer a passagem e conseguirem seguir com suas vidas, o que elas não sabem é que ele não se foi totalmente, que ele ainda esta aqui,  neste momento assistindo seu próprio funeral de trás de um velho carvalho, onde ele supo~e que eu não poderei vê-lo, mas eu sempre posso... Seu brilho se destaca das demais almas negras que perambulam por aqui, e mesmo se não fosse assim eu conseguiria acha-lo no meio de uma multidão, pois seu brilho azul já faz parte da minha vida.

Todos seus amigos e colegas estão presentes, assim como muitas pessoas do colégio que nem o conheciam, mas o admiravam. E muitos me encaram como se eu estivesse aqui para conseguir meus quinze minutos de fama, afinal não é porque eu sou da família que eu tenho o direito de estar ao lado do caixão derramando uma lagrima enquanto o padre recita diversas passagens que não são verdadeiras. [Ah sim, porque todas as almas encontram o Reino dos Céus, sei bem como é!]

O que eles não sabem é que não estou chorando por um garoto que nem cheguei a conhecer, que não sou emotiva a esse ponto, eles não sabem que eu estou chorando porque simplesmente descobri esta manha que estou apaixonada pelo fantasma que tem me assombrado e que no momento em que o caixão descer e tocar o solo será enterrada com ele minha ultima esperança de viver esse amor, não que existisse alguma da primeira vez em que me permitir pensar nele de outra forma, ele ser transparente deveria ter me dado a dica, mas torna tudo mais oficial, me deixando sem saída. A única coisa que eu sei de verdade é que o caixão não esta completamente vazio. Meu coração esta dentro dele. Despedaçado e morto, assim como o rapaz a quem eu o entreguei.